16 de junho de 2013
Em um sábado (15) em que o sol se fazia de difícil, um grupo de 200 pessoas deixou São Paulo rumo ao Hopi Hari, parque de diversões na cidade de Vinhedo, a 72 km da capital paulista. A maioria dos passageiros, crianças e jovens portadores de síndrome de Down ou com outras deficiências intelectuais, jamais havia estado no parque. Estavam acompanhados por seus pais, mães ou irmãos nesta viagem que fazia parte de um programa do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural, que distribuiu 100 convites para os interessados – e mais um para o acompanhante. Todos tinham necessariamente de ter a companhia de um adulto responsável.
Todos eram facilmente reconhecíveis no parque, já que vestiam camisetas que ganharam da organização do evento. Cinco ônibus fretados os levaram até o parque, que fica a menos de uma hora de viagem de São Paulo.
Já na entrada do Hopi Hari, alunos e acompanhantes se dirigiram a um posto de informações para retirar um folheto com a relação dos brinquedos considerados inseguros para os participantes com deficiência intelectual. Uma pergunta bastava para conhecer o brinquedo favorito da maioria dos visitantes: o carrinho bate-bate foi a escolha de Daiane Batista de Andrade, 25, de Paulo Souto Maia, 49, de Bruno Almeida Jorge, 9, e de Roberta Kelly do Nascimento, 26. Para alegria geral, o carinho de trombada foi liberado para todos.
Daiane estava ansiosa para iniciar o passeio. “Nunca vim aqui. Quero ir também no Rio Bravo (passeio pelo riacho), mas tenho medo da montanha russa”, revelou. Já Roberta avisou que sua mãe tinha medo da roda gigante, e por isso não queria experimentar o brinquedo. “Vim com a minha mãe e com meus amigos e com a professora Rosana Aguiar. Quero ir no cavalinho também”, descreveu ela, já emendando que na escola tem aulas de “desenho, pintura, obra de arte (sic) e aula de dança”.
Mãe de Roberta, a viúva Maria Arlete do Nascimento, 43, contou que nunca tinha levado a filha ao parque porque gasta a maior parte da renda familiar “com remédios e com o principal”. Maria Nazaré Batista, 58, mãe de Daiane, se divide entre trabalhos de meio-expediente como faxineira e os cuidados com a filha e com o neto de oito anos. “Não consegui colocá-la numa escola normal, mas ela sabe ler e vai às aulas no Nosso Lar [Centro Espírita Nosso Lar], lá no Jardim da Glória”, disse ela.
Sem nenhum familiar a acompanhá-lo, Paulo estava sob a custódia da supervisora do Nosso Lar, Maria Aparecida Moreira de Souza, a Cidinha, de 65 anos. A mãe de Paulo faleceu há cerca de dois meses e o rapaz hoje mora com um tio. Morrer antes de seus filhos é um medo recorrente para as mães de crianças e jovens com Down, já que eles precisam de cuidados especiais. Mariana, mãe de Daiane, explicou: “Tenho de fazer o máximo pela minha filha enquanto eu posso, porque não sei o que será dela quando eu falecer. Ela tem uma irmã, mas sei que a irmã não vai cuidar dela como eu cuido.”
No caso de Paulo, a falta da mãe foi de certa forma superada. Ao longo dos anos, ele desenvolveu um grau de autonomia que muitos dentre os demais não conseguiram alcançar: ele é, desde 1985, funcionário do Nosso Lar, atuando como office-boy e ajudando no recebimento de doações de roupas e alimentos. No momento, está também engajado em procurar uma namorada, e sabe de cor o nome das meninas mais bonitas da instituição.
TODOS PRONTOS PARA A FARRA
Os alunos tomam diferentes caminhos ao longo do passeio, mas volta e meia se encontram na pista do bate-bate, a que todos fazem questão de voltar. Paulo vai de carona com Cidinha, Roberta dirige auxiliada pela mãe, que a ajuda acionando os pedais do acelerador e do breque (por ser pequena, ela não consegue alcançá-los). Bruno também vai de carona e vibra a cada manobra mais arrojada do cunhado, Luciano Batista dos Santos, 29.
Aline Aparecida Penha da Silva, 17, curte o brinquedo acompanhada pela cunhada Andrea Souza Rocha, 40. A menina também está vestindo a camiseta do evento, mas por conta de um acaso feliz. Aline não viajou para o parque nos ônibus da excursão como os demais: veio com a família e só encontrou o grupo na entrada. Ali, ganhou uma camiseta de presente, e passou a fazer parte do grupo.
Muito falante, vai logo avisando que não é “espoleta”, e explica: “Sou animada e sou de Jesus”. Quando a reportagem se aproxima, logo quer saber se vai aparecer na TV. Quando descobre que aparecerá “no computador”, fica igualmente contente, imaginando que ficará famosa e distribuirá autógrafos. Também ela está no primeiro passeio ao parque, já foi ao carrossel e à montanha encantada e ainda pretende “ir no trem fantasma e depois comer”, conta ela.
“Eu acho importante que haja programas que promovam a inclusão”, elogia Andrea Souza Rocha. “Eles [os portadores de síndrome de Down] são mais inteligentes do que a gente imagina. Esse tipo de iniciativa é super importante”, avalia ela.
Outro acaso feliz foi encontrar Ana Paula Guglielminetti, 38, que visitava o parque com suas crianças, que não têm nenhum problema de desenvolvimento, e o marido. Ela gostou da iniciativa e apoiou a participação das crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual no parque. “Acho lindo. Para mim, todo mundo tem que participar mesmo”, celebrou ela.
Fonte: iG